sexta-feira, 9 de março de 2007

O olho contente de estar cego em chamas: Hughes



The Jaguar

The apes yawn and adore their fleas in the sun,
The parrots shriek as if they were on fire, or strut
Like cheap tarts to attract the stroller with the nut.
Fatigued with indolence, tiger and lion

Lie still as the sun. The boa-constrictor’s coil
Is a fossil. Cage after cage seems empty, or
Stinks of sleepers from the breathing straw.
It might be painted on a nursery wall.

But who runs like the rest past the arrives
At a cage where crowd stands, stares, mesmerized,
As a child at a dream, at a jaguar hurrying enraged
Through prison darkness after the drills of his eyes

On a short fierce fuse. Not in boredom—
The eye satisfied to be blind fire,
By the bang of blood in the brain deaf the ear—
He spins from the bars, but there’s no cage to him

More than to his visionary cell:
His stride is wilderness of freedom:
The world rolls under the long thrust of his heel.
Over the cage floor the horizons come.


Ted Hughes



A Onça


Monos bocejam e adoram suas pulgas ao sol,
Araras guincham como se incendiadas, ou empoam-se
Como putas baratas para atrair o passante com a noz.
Exaustos de indolência, tigre e leão

Jazem quietos como sol. A cauda da jibóia
É um fóssil. Jaula a jaula, parecem vazias,
Ou fedem a dorminhocos sobre a palha arquejante.
Poderiam estar pintadas numa parede de hospital.

Mas quem apressa-se como os outros das preliminares
À jaula onde a turba está, fixando, mesmerizada
Como uma criança em sonho, uma onça rugindo ensandecida,
Tece com bilros de seus olhos, na penumbra da prisão,

Breve e forte fuso. Longe do tédio—
O olho contente de estar cego em chamas,
E uma gota de sangue no cérebro ensurdece o ouvido—
Ela gira rente as barras mas há jaula tanto

Quanto para o visionário em sua cela:
Seu mover-se é selvageria de liberdade,
O mundo gira sob o longo alcance de seu calcanhar.
Acima do chão, horizontes propõem-se.






Nota - difícil conformar-se com o fato de nas outras línguas ocidentais a 'onça' ser conhecida pela bela palavra - aliás tupi - 'jaguar'. A palavra é tão evocativa que nomeia uma fábrica inglesa de carros esportivos. Enquanto isso, em português, temos que nos contentar com a palavra 'onça' (que vem obviamente do peso considerável do felino: "pesava tantas onças", deviam dizer os colonos). É claro que a palavra jaguar existe em português, mas no dicionário, não na voz que corre.

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