terça-feira, 10 de abril de 2007

O tumulto no coração mantém perguntas: Bishop


Marcel Duchamps, 1912




Conversation

The tumult in the heart
keeps asking questions.
And then it stops and undertakes to answer
in the same tone of voice.
No one could tell the difference.

Uninnocent, these conversations start,
and then engage the senses,
only half-meaning to.
And then there is no choice,
and then there is no sense;

until a name
and all its connotation are the same.

Elizabeth Bishop


Conversa

O tumulto no coração
mantém perguntas.
E então estaca e aceita responder
no mesmo tom de voz.
Ninguém pode dizer a diferença.

Culpadas, essas conversas começam,
e então engatam os sentidos,
tão-só a meio sentido de.
E então não tem escolha,
e então não faz sentido;

até um nome
e toda sua conotação serem o mesmo.




Nota- embora tenha me educado para admirar uma vertente de poesia [Pound, Williams, Creeley, Language Poets, e, em outro registro, O’Hara, Ashbery et all] completamente distinta, acho Bishop uma poeta maravilhosa. Este poema, por exemplo, só pode ter sido escrito por alguém que conhece ou um dia sonhou conhecer a poesia em português. Não a moderna. Mas a do 'Quinhentos' – que, para mim, ainda é, de longe, a mais elevada, a mais sublime. Há neste poema, de modo simples e esplêndido, impresso como um selo, nítido como seixos debaixo da água mais translúcida, algo de Camões, e, sobretudo, de Sá de Miranda – o primeiro a cultivar o soneto em Portugal [em simultâneo ao que fizeram Juan Boscán e Garcilaso de la Vega em Espanha]. Uma sensibilidade sul-européia, uma medida [que é a do decassílabo fracionado], uma sentimentalidade portuguesa, uma saudade, que são completamente alheias à sensibilidade do Norte da Europa. E atingir isso através do inglês! Ah, meus camaradas, não é brincadeira!

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