quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Do oba-oba videoclipeiro em torno de Obama


David Wark Griffith, Politician's Love Story, 1909


Jornalismo não é videoclipe

Ligue-se a televisão em qualquer canal de notícias por esses dias e fatalmente se vai deparar, num determinado instante, com uma frenética edição de planos onde se misturam stills e filmes de arquivo. O centro dessa edição, comentada por um 'over' laudatório e previsível, é o recém-eleito presidente dos Estados Unidos. Ele é reposto na pequena tela - no ecrã, como dizem os portugueses - ao modo de um pop-star: John Lennon ou Steve Winwood. É mais ou menos óbvio que quase qualquer coisa que venha depois de W. Bush tende a ser menos desastrada. Mas até quando uma análise política mais consistente - e mais em plano-seqüência - será adiada em nome desses infames videoclipes? É claro que importa a etnicidade de Obama, por um lado. A lembrança de que o blues veio da mesma senhora tristeza que compôs lundus e sambas. E é bom entrever a chegada ao poder de um mestiço numa socieade que, a despeito dele, sabe muito menos a respeito de mestiçagens que a nossa. Mas, em princípio, a prioridade é ter um governante menos desastrado trabalhando no Salão Oval. Seja ele (ou ela) branco, preto, amarelo, azul, escarlate. De preferência, que não seja cor de burro-quando-foge. Porque disso, de burrice e certa fuga de tomadas de decisões mais conseqüentes, já tivemos amostras suficientes no quadrante que se fecha.

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