sábado, 6 de dezembro de 2008

No verso de certa página


[s/i/c]


O Gosto de um Suave Pensamento


Costumavam anotar as dádivas do dia no verso em branco da página de rosto do Livro de Ruth. Os dias eram bons. A fruta doce. Logo faltou espaço na página para o registo de tanto contentamento. Seguiram colando páginas de fino papel-manteiga. Mas as costuras do exemplar não suportariam o volume de tantas páginas. Compraram outro exemplar. Maior, mais guarnecido. Mesmo no contratempo, nunca entre eles ouviu-se uma palavra baixa. Porém então as frutas já sabiam a algum acre. E os dias também sazonavam. E veio o dia em que a partilha foi feita. Se ponderou quem ficaria com os exemplares anotados. Então, ela ficou com o menor. O dos primeiros tempos. Registrava a descoberta da praia. Praia que fora deles, durante um agosto de grandes luas. Ia voltar para sua terra. Lá não havia praias assim; luas de mesmo diâmetro. Aquele matiz de ouro e sangue surgido em seguida ao mangue. O exemplar maior? Ah, bem, o maior é onde ele escreve agora. Como se pudesse lançar ao mar numa garrafa, a memória suave daqueles tempos.



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