quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

"Tudo é relativo"? Tem nada a ver com física (e tem mesmo a ver com o quê?)


[s/i/c]



De Invariâncias e Paradoxos

Outro dia, lia um artigo sobre literatura e o pós-moderno em que o autor datava a hora e o lugar exatos em que surgiu o pós-modernismo: o momento em que Einstein chegou ao termo da sua equação sobre a relatividade. Isso de "exato" pode soar engraçado aos olhos de um historiador, de alguém como Vico, de um cético ou simplestemente de um certo senso-comum mais intuitivo quanto a generalizações do tipo. Mas tem gente acredita nessas "exatidões" e divisores de água. Que fique claro, por outro lado e aqui, que se passa longe de negar a importância da contribuição de Einstein. A chave é bem outra: a banalização dessa contribuição, a leitura rala que a ela foi dada. De resto, sobre a apropriação indébita da Teoria da Relatividade pela "Teoria dos Relativismos", presente em nossos esquemas mentais, no de boa parte de nossos professores, e nas apologias e loas ao pós-contemporâneo, o esclarecimento de um físico:

O fato é que é quase uma ironia que a teoria tenha sido batizada com este nome. Porque enquanto a validade das leis de Newton depende do estado de movimento do observador com relação aos demais corpos do universo, o que Einstein obteve são leis INVARIANTES, ou seja, independentes do sistema de referência a partir do qual se descreve o movimento. Leis portanto absolutas neste sentido!

Obviamente, a máxima "tudo é relativo" nunca foi pronunciada por Einstein. Nem poderia ter nada a ver com Física, esta engenhoca que aprendeu a falar de aspectos extremamente particulares e obsessivamente definidos - e talvez por isso mesmo insignificantes - do universo.
[Dr. Anton Padrevsky Jr., PhD, University of Southern Guyana and Nothern Roraima]

Notem o paradoxo no fluir do pensamento: a teoria da relatividade é invariante, mais acondicionada, mais à vontade, abrigada e em casa, na abstração, [no solipsismo sem frequentação da realidade física exterior] que a física newtoniana (por origem aberta à concreção do mundo). Outro ponto importante é a ressalva quanto a essa especialização - que, no fim, se torna tão particular e obsessiva, que sacrificamos a ela nossa visão do todo. Ou seja, não conseguimos retornar com a ponta desse especialismo e reeganchá-lo no quotidiano do boteco, da partida de futebol, do episódio de A Feiticeira na TV, da grana que se tem de ganhar, da chuva que cai lá fora, da ruga que se vem desenhando entre as sobrancelhas dela ao longo dos anos, de gente que desistiu de argumentar [mas não de postar], de Pedro Pedreiro esperando o trem, da morte da bezerra, etc.


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