quinta-feira, 12 de março de 2009

23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles


Chantal Akerman, Jeanne Dielman, 1975


Rotina sem glamour


Hoje à tarde assisti o Jeanne Dielman, de Chantal Akerman. O ritmo lento de Jeanne Dielman. E que a gente nem sente. E o tanto de previsível que há na tesoura. Aliás a tesoura também aparece como arma letal nas mãos da protagonista do Blindness, de Meirelles – algo menor. Jeanne Dielman parece um filme humano, de largos e bem ritmados tempos mortos. Uma dona-de-casa de Bruxelas, mantendo uma rotina espartanamente regular, se prostitui, no próprio apartamento, para grantir o futuro de seu único filho, que passa o dia na escola. Na única ocasião em que, fortuitamente, atinge o orgasmo, assassina seu "freguês". Mas será que Akerman deixou seu Jeanne Dielman ser “canonizado” pelo feminismo sem apontar para o que nele transcende simplesmente o feminismo (ou mesmo o feminino), embora seja um forte depoimento sobre a condição da mulher, na década de 70 do sec. XX? Não, ela afirmou diversas vezes em entrevistas, que, por um acaso, a protagonista do filme era uma mulher. Mas que bem poderia ser um homem. Afinal, o filme é sobre ser humano. E também sobre o quanto o verdadeiro zelo e cuidado com os outros passa por uma rotina quase sempre não glamurosa. É sempre uma esperança entrever alguém com a integridade de Akerman.




* * *

Nenhum comentário:

Postar um comentário