quarta-feira, 13 de outubro de 2010

753.457

Herbert Bayer, Capa do Nº4 da revista Bauhaus, 1929




Duas Mitologias Acidentais em Torno de Números
-do Tuíter, da prega que se pode pôr na vida a fim de ganhar tempo e do Dr. Gladwell


I.

Aquelas frases Belém-Brasília sendo postas nos contagoteados 140 caracteres

Quando ainda no Tuíter, uma escritora aqui de Fortaleza me perguntou por DM o que se deve fazer para escrever bem. Isso no Tuíter, com 140 caracteres para responder. É claro que acabei mudando o rumo da prosa. Até porque gosto do que ela publica.

É por essas e outras que saí das redes sociais. Embora nada tenha contra quem acha um bom negócio. O ser humano é capaz de ser criativo em qualquer ambiente. Mesmo no inferno megamétrico dessas redes. E, como diz Aldous Huxley, “sequer por um momento acreditei que criatividade tem qualquer coisa a ver com neurose”.

Reparem como é bonita a afirmação de Huxley. É uma “afirmação”. Algo que busca nos deixar mais seguros, firmes ao pisar o mundo. Sentir que há um solo para ser pisado. Tomemos Bach, por exemplo. Ele não parece ter sido assim tão neurótico.

Um dia ainda penso em escrever um livro. Em parte estética. Em Parte auto-ajuda. Em parte para ser posto no Tuíter. (Vocês já imaginaram, por exemplo, Proust publicando a Recherche no Tuíter? Ou Kerouac publicando Big Sur? Aquelas frases Belém-Brasília estendendo-se por tuítos e tuítos. Seria uma maravilha).

Ah, mas ia esquecendo o título do meu livro: Como escrever bem em 753.457 lições.

II.

Según los cálculos del sociólogo Malcolm Gladwell

Há coisas copiosamente engraçadas que as pessoas dizem com grande seriedade. Essas são as que realmente tiram riso. Muito mais do que as revistas de humor. Por exemplo, há esta frase no Babelia, suplemento literário de El País, esta semana:

Como cualquier proyecto de altos vuelos, la creación artística requiere dedicación absoluta. En términos cuantitativos, un mínimo de 10.000 horas de prácticas, según los cálculos del sociólogo Malcolm Gladwell (Fueras de serie, Taurus).


Isto é (involuntariamente) tão bom em termos de humor - sendo a comédia em essência algo que põe abaixo, que demole - que até parece tirado de uma página de Borges.

* * *

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