quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A imagem imóvel da eternidade


Jean Vigo, A propos de Nice, 1930


Fragmento sobre tempo e cinema

E se disséssemos que o cinema “é a imagem imóvel da eternidade”? Isso seria reduzi-lo à fotografia? Seria forçar sua coincidência com a famosa fórmula do tempo em Platão?

Não. O melhor cinema é imóvel. Quer dizer, visa a imobilidade em tendência. Assim como a melhor escritura tende para o silêncio. Assim como as melhores fotos – mesmo as, digamos, de uma natureza morta – dispõem-se para o movimento: indicam-no.


CODA

Pode-se pensar em George Oppen: " eu veria o que a folha da grama veria, se tivesse olhos". Ou J.M.G. Le Clézio: "a realidade da matéria, vista segundo suas mentiras pelos olhos de um mono. Vista pelos olhos de um polvo. Vista pelos olhos das ervas e dos gafanhotos. Pelas anêmonas do mar. Pelos pepinos-do-mar. Pelas baratas. Pelas folhas de gerânio [...] O que é morto, é. O que é vivo, o que é animado ou imóvel, é. E o que não é mais, é ainda". O cinema, como movimento [movie=moverzinho em inglês] tende à imobilidade, ao still. A fotografia, imóvel, tende ao movimento. 


Mas onde está mesmo Zenão?


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