domingo, 8 de abril de 2012

E eu nem li o jornal: o Som Imaginário 30 anos depois

De pé: Luís Alves e Fredera. Sentados: Zé Rodrix, Robertinho Silva, Wagner Tiso e Tavito

A nota vem em atraso. Talvez, para reformular uma máxima e expô-la assim: a palavra tarda mas não falha. Meu coração é novo, e eu nem li o jornal.
No início deste 2012, a volta do Som Imaginário para alguns shows em Sampa clamou a atenção de quem se liga mais de perto em música.  O legendário grupo não se apresentava há mais de 30 anos. E foi saudado por um misto de velhos admiradores, de gente que os ouviu quando criança e de novos fãs que sequer eram nascidos.
Gênese desse desbravador Som Imaginário, os W Boys integravam uma banda onde todo mundo tinha W no nome. Menos Milton Nascimento, justamente a voz do grupo. Mas Milton achou uma solução simples: emborcou o M e ficou sendo Wilton Nascimento. Ao menos por uns tempos. 
Anos depois, já consagrado nacionalmente, o menestrel de Três Pontas gravaria com o grupo Milton  (1970), que abre sua carreira ao experimentalismo, às fusões e a uma ambiência mais pop e roqueira. Como se pode constatar nesta "Alunar" de sonho. Os dois Milagre dos Peixes (1973 e 1974), também gravados com o grupo, respectivamente em estúdio e ao vivo - onde há, no segundo, uma inesquecível versão de "Sabe Você" - revelam a versatilidade do Som Imaginário, aqui num momento jazzístico, mais intimista, e colhem Milton no auge da voz e dos experimentos com ela. (E é pontual lembrar que Milton nunca cantou melhor que entre o final dos 60 e os dez anos subsequentes. E que, nesse departamento, só Elis Regina pode competir com ele).
Volta e meia as letras do Som Imaginário, de uma psicodelia que quicou no país quando já estertorava lá fora, exorbitavam um pouco. Mas não são menos impagáveis por isso. Como na inesperada "Cenouras", cujo refrão, cantado por Fredera com voz histriônica e aparentemente gripada, diz: "Eu vou plantar cenouras na sua cabeça". Não se topa com um refrão desses em toda sala de jantar. Muito menos em tempos de ditadura. Nem com um rock assim medular, mas que termina em filigranas percussivas impossíveis de reproduzir.
O Som Imaginário, ao lado d'Os Mutantes, foi uma das pioneiras, mais viscerais e bem sucedidas fusões entre rock e ritmos brasileiros. Efêmero, o grupo é hoje mais conhecido por seu trabalho de estúdio, ao longo dos anos 70, acompanhando grandes solistas - casos de Gal Costa, Taiguara, Marcos Valle e do próprio Milton. Lançaram, no entanto, três álbuns autorais que se converteram em relíquias. Eles ajudaram a forjar - junto com Nelson Angelo, Toninho Horta, Novelli, Nivaldo Ornellas, Paulinho Braga, Jamil Joanes, Paulo Moura e os magos Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti, entre outros session musicians de primeiríssima linha - a sonoridade ímpar de alguns álbuns clássicos, como os Clube da Esquina 1 e 2 (1972 e 1978 ), o chamado Disco do Tênis (Lô Borges, 1972) ou o Nelson Angelo e Joyce (1972) - três dos quais, por sinal, completando quarenta anos.
Adiante no linque, podemos ouvir alguns de seus integrantes na rendição de “Feira Moderna”, tal como arranjada para o segundo disco de Beto Guedes, Amor de Índio (1978). Com Luís Alves no baixo, Robertinho Silva na bateria - além de, eventualmente, o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos - o Som Imaginário teve uma cozinha deveras incrementada. Embora os dois primeiros, de resto, mereçam destaque apenas por serem menos conhecidos entre não-músicos, sendo os músicos excepcionais que ambos são. E falar de quem tocava os outros instrumentos será perder tempo.


Para uma ácida entrevista com Fredera, o polêmico guitarrista do Som Imaginário, que então se assinava como Frederyko: 


2 comentários:

  1. Ruy, o Som Imaginário, j'adore! Meu favorito é o segundo, Nova Estrela. Beijinhos! Mônica.

    E, escute, eu tenho ouvido muito pouco Paul Weller ;-), pra seu governo! Mas mixei-me com o Demétrius vs. Demóstenes. Só não me faça outra descortesia falando mal do Cure. E d quem mais você sabe.

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  2. vá sossegar, m. livre pensar é só... pensar pouco?

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