quarta-feira, 30 de maio de 2012

O Mar


Praia das Barreiras, Camocim



θάλασσα
o buliçoso lençol oscilante, ebuliente.

Quantas criaturas marinhas, que em ilustração primeiro habitaram livros, não estariam guardadas sob as vincas daquela inesgotável tecido? E descer até elas, pescá-las, seria como estudar gramática na terceira série: permanente, prazerosa descoberta que tinha a ver com deduções, arrazoadas cismas. Que era mais semelhante à matemática do que se supunha, só que por outro atalho. E seguia até mesmo adiante do pouco entusiasmo de uma professora que, de resto, não era jovem ou bonita quanto a da segunda série. Esta, sim, neta de italianos, seguia para aula de belos vestidos, um sorriso emprestado à Cardinale. E fora ela quem apresentara a gramática como uma sorte de lógica entusiasmada. Um pouco intuitiva, de vez em quando. E o menino sorria como a ilustração de um menino sorrindo, escanchado em um píer com uma vara de pescar. E, abaixo na água muitos peixes e letras e números esperando a vez. Certamente pescaria de sob aquele mar alguma letra ou peixe, de quando em vez.
Aquele mar que devia ser para além da Praia das Barreiras, onde quase ninguém ninguém vivia, além de matutos nas planícies engraminhadas do seco e criaturas do mar nas buliçosas águas depois das dunas. E tudo num tempo em que, do lado da cidade, as mulheres, deixavam de usar anágua. Quando desenhou e coloriu aquele cromo, o ilustrador devia estar com saudade daquelas bandas, onde nada podia ser comparado, para lá da Praia das Barreiras. Não tinha muita coisa nelas. 


A não ser, talvez, debaixo d'água.

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