quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Eu não tô en-ten-deeeein-do (ou Só se for pelo ladrão)


Get Smart (Agente 86), c. 1969

parece haver uma comoção meio mórbida por parte dos jornalista do Uol/Folha quando noticiam algo como a ocorrência de um ciclone no Brasil. Pode-se advinhar um fru-fru nas cadeiras. Um frisson. É como se, por conta disso, ficássemos mais dignos, mais próximos, mais limpos, mais parecidos com o modelo almejado. O modelo sonhado em horas de consumo, inevitabilidade de futuro e espelhos pelos cabeças-ocas: os Estados Unidos
ou então, aquela Europa "véa", a mais estapafúrdia e endividada, mas que parece com Estados Unidos sob tutela teutônica, apesar de não produzir um parafuso mais. Como se o futuro desejável fosse mera cópia do "grande irmão" do norte - ou no caso "das Europa", do lado de lá do Atlântico Norte, para onde a transposição da cultura europeia foi bem menos matizada que aqui. Foi mais direta e sem outros temperos a-ocidentais ou influxos étnicos batidos no liquidificador da miscigenação 
esse fascínio um tanto acrítico estende-se sobretudo aos saxões que ainda sobraram coçando os ovos nas latitudes mais ao norte do Velho Mundo, e revisando o espírito calvinista, enquanto islâmicos, paquistaneses, caribenhos e africanos trabalham para eles. Eles que exaltavam o valor do suor e do trabalho. Hoje em dia,  se ainda exaltam, só se for o dos outros. E para enriquecê-los - portugueses, espanhóis, irlandeses e gregos incluídos no pacote. No pacote da trabalheira, entenda-se bem claro e ainda. Enquanto mais ao Norte, eles vivem do outsourcing e deploram a falta de iniciativa do pessoal do Sul - incapazes de explorar tanto e tão bem os outros e o resto do mundo quanto eles próprios, não é de hoje. E lembrar que Alemanha, que passa esbregues de causar calafrios nos pobres europeus do sul, nunca que reembolsou a Grécia pelos tremendos prejuízos causados e tesouros artísticos afanados à época da Segunda Guerra. Ainda assim, os alemães não cansam de posar, rebenque à mão, de capatazes da Europa 
tornando ao terreiro, esses jornalistas do Uol/Folha entram em polvorosa quando falam da Broadway ou de Gay Talese. Babam quando referem Harvard ou o MIT. Têm delíquios quando citam Pierre Lévy ou um desses Michels Foucaults velhos de guerra quaisquer, do qual ouviram falar num retalho de seminário lá na ECA
ontem noticiaram um ciclone. Porém no Uruguay. E no texto só faltou algo como: “ah, que pena que não foi no Rio Grande do Sul”
é esse bando de alimárias de redação que tem importado acriticamente o politicamente correto. Integralmente. Inclusive em seus excessos mais torpes e foras de hora e lugar. E que contribuem para que aspectos melhor resolvidos na cultura brasileira que na estadunidense sejam postos de lado em nome de uma insidiosa imitação simiesca, burra e irresponsável da cultura norte-americana no que ela tem de mais degradante. E olha que, de outra forma, do melhor que os americanos produzem - que não é pouco - a melhor parte passa batido por eles como uma bela mulher diante de um cego
quase todos esses brothers já leram Gay Talese. Ou Kurt Vonnegut. Ou Jonathan Franzen. Ou Will Self. Alguns, mais sofisticados, conhecem Jorie Graham ou Mark Strand. Praticamente nenhum leu Gilberto Freyre. Ou Zé Lins do Rego. Ou Guimarães Rosa. Ou mesmo Antonio Candido ou Roberto Schwarz
a ver os próximos capítulos que os “mano” vão tramar. E discutir nas TV's por assinatura com aqueles gerúndios escandidos meio debiloidemente:
-o estáfe da cantora não está encampando essa solução, percebe, meu? 
às vezes a gente esquece que boa parte da pior borra impressa e televisiva - independente do brow: seja high, middle ou low - vem mesmo de São Paulo. E não pensem que se resume a Faustos Silvas, Gugus Liberatos ou Lucianos Hucks. Não. Ou àquela horrenda MTV com sotaque de suposto skatista da Mooca, e distribuindo má bobagem em vazão torrencial. Ou a hemorragia de programas feitos em festas, e que pululam na madrugada e tentam roer o osso que caiu da mesa das "celebridades". Não. Estes são apenas a ponta do iceberg. Ainda mais perigosos são esses sofisticados sacripantas de redação
caras, bocas. Nefelibatismos natos
curadorias mil. Vivências. Casas de cultura. Lactências
culturas escorrendo pelo ladrão

só se for pelo ladrão

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