quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Uma Sorte Lascada

Thomas Draschan

-Bu! - disse o fantasma. 
-Eu não acredito em fantasmas - ele disse.
Mas o fantasma não contou até três, e lepo: plantou-lhe a mão no pé do ouvido.
Ele estatelou-se no chão. Mordeu poeira. Um fio negro rubro escorreu do nariz:
-Não adianta – disse apalpando a mandíbula – não acredito. Deve ser uma sugestão psicossomática. Crise de pânico. Um delírio paranóico. Essas coisas. E ponto.
O fantasma, então, puxou um 38 do cós das fraldas de fantasma e descarregou o barril. Os tiros ressoaram bonito que nem em filme de faroeste. E pontos.
Já do lado de lá, no Além, ele próprio um fantasma, admitiu:
-É. Pisei na bola. Não se pode ganhar todas. E, além do mais, tive uma sorte lascada no amor.

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