quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Orkut e história


[s/i/c]


Arquivo de entropias exibidas

Cheguei a ter uma página no Orkut. Mas logo percebi a impertinente indiscrição que atravessa a coisa toda. Algo como se fosse agradável trocar cartas em público. Mas há cartas, sabemos, que precisam estar na manga. Ou que só podem ser trocadas longe dos olhares de todos que não os missivistas. Então, saí do Orkut.

Agora, como tenho certa natureza voyeur, não me furto de entrar, de quando em raro, para conferir algumas "conversas". Entro icógnito. Saio mais icógnito ainda. Há interlocuções de uma bizarria à toda prova. E há essas fotos pessoais que assomam fantasmagóricas separadas dos albúns de família. Algumas das páginas mais estranhas, no entanto, são as de gente que já morreu. E as mensagens continuam lá.

É estranho, porque algumas dessas páginas parecem mais perenes, vivas do que as dos vivos. Ou reter um grau de vontade, de viagens, de aventura para sempre apenas em projeto. Pode-se enviar mensagens para elas. Mas essas mensagens permanecerão sem resposta. Embora essa ausência de resposta, essa pesada reticência faça mais sentido que a garrulice dos vivos. Parece que uma abissal distância separa essas páginas das outras. Embora elas estejam ali, contíguas às demais.

Imagino se um dispositivo como o Orkut sobreviver alguns anos mais. E, daqui a setenta ou oitenta anos, um historiador do futuro se deparar com aquele cemitério virtual, onde as pessoas expunham tão despudoradamente intimidades. Um arquivo de entropias exibidas.

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