segunda-feira, 1 de outubro de 2012

De todas as vistas à vista: Bèla Tarr

Bela Tarr, Werckmeister Harmonies, 2000


É estranho.

Não gosto do discurso de Bèla Tarr. Da maioria de seus pontos.

Sua visão de mundo surge bastante desinteressante, quando dita por ele em entrevistas.¹ O que os atores dizem em seus filmes é irrelevante. O que críticos dizem sobre eles é ainda mais pavoroso.²

As vistas isoladas. Não os filmes. Nem mesmo certas sequências. Mas as vistas salvam o artista.  

E, salvo engano, não é acima de tudo de vistas que se faz o cinema? De visões? As divisões classificatórias que se fazem sobres essas visões são extremamente mais secundárias.³ E perfeitamente desinteressantes.

As vistas de Bèla Tarr remetem a Brueghel e a Gabriel Figueroa.[4] Há algo da ordem da revelação, da citação bíblica. Mas também de certa fotografia P&B que se vê naqueles belíssimos filmes hllywoodianos da mais reacionária e clássica das décadas: os anos 50. Terá Bela Tarr se apropriado de algo que via em admiração quando criança? [5]

É provável.



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¹Sua biografia é apenas a de um artista. E a maioria dos artistas é de grandes salafrários. E fazem coisas de segunda ordem diante da necessidade que temos de comida e roupa. Mesa e água encanada. Cama e iogurte. Dinheiro e escola.
²E há esse momento em que o próprio Tarr desanca um crítico judeu-norte-americano que, de sua parte, se esforça, coitado, por agradá-lo a qualquer custo. É constrangedor [Entenda-se, o vexame, aqui, é o de um crítico, um professor, um ser humano deixar-se tratar dessa forma sem reagir. Ainda que por alguém que admire. Ou por isso mesmo]:




³Embora algumas busquem o primeiro plano por uma sorte de valor em si. São raras. As de Bazin, por exemplo. Mas elas não substituem a imagem, é preciso dizer, embora isso pareça tão óbvio. O valor da imagem não é o de mil palavras. Mas é o de mil ou mais clichês. Ou pixels, se quiserem. E nenhuma fala anterior ou posterior agregará nada de mais à imagem que não já esteja na imagem. 
[4]Gabriel Figueroa também vem por Brueghel. Mas desdobra-o em algo mais solar, equatorial, de algum modo próximo do Ceará. Nesse ponto, ele divide aspectos com Raimundo Cela (injustamente estigmatizado por supostos artistas de vanguarda mal informados) e Chico Albuquerque. Ou, para uma geração mais recente e com outras compositividades no olhar: Ivo Lopes Araújo, que talvez sequer o reivindique. 
[5]Para conceber, clarificar melhor o que chamamos de visões clique em: "A Separação das Imagens - Ter Visões".

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