terça-feira, 21 de julho de 2009

Se só a filigrana é meu trabalho


Marcel Broothaers, On the Art of Writing and on the Writing of Art, 1968




Diece Poesie Scritte in un Mese



Dieci poesie scritte in un mese

non è molto anche se questa

sarebbe l’undicesima.

Neanche i temi poi sono diversi

anzi c’è un solo tema

e ha per tema il tema, come adesso.

Questo per dire quanto

resta di qua della pagina

e bussa e non può entrare,

e non deve. La scrittura

non è specchio, piuttosto

il vetro zigrinato delle docce,

dove il corpo si sgretola

e solo la sua ombra traspare

incerta ma reale.

E non si riconosce chi si lava

ma soltanto il suo gesto.

Perciò che importa

vedere dietro la filigrana,

se io sono il falsario

e solo la filigrana è il mio lavoro.



Valerio Magrelli



Dez Poemas Escritos em um Mês



Dez poemas escritos em um mês

não é muito embora este

seria o décimo primeiro.

Tampouco os temas são distintos

ao contrário há um só tema

e tem por tema o tema, como agora.

Isto para dizer quanto

resta a este lado da página

e busca e não pode entrar

e não deve. A escritura

não é espelho, senão

o vidro esmerilado das duchas

onde o corpo se estraçalha

e só vislumbra sua sombra

incerta mas real.

E não se reconhece quem se lava

mas somente seu gesto.

Por isso é importante

ver atrás da filigrana,

se eu sou o falsário

e só a filigrana é meu trabalho.




Tradução: Priscila Manhães Lerner [do blogue Dias de Voragem]



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