segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Quando aberturas de contos são melhores que as de xadrez

[s/i/c]



Encontre-me no Hotel Montana


Eu ia dizer de boas aberturas de contos. De como elas se assemelham a boas aberturas no xadrez. Mas depois desgostei da ideia. Pois então me lembrei que não gosto tanto de xadrez. E portanto não gosto tanto de aberturas de xadrez. E o quanto aberturas de xadrez são apenas o prólogo de um passeio mais ou menos mecânico das pedras sobre o tabuleiro. Não se pode divagar com as pedras, em errância. Flanar com elas. Pois, nesse caso, você se deita em maus lençóis. E então aberturas de bons contos são quase sempre menos previsíveis que clássicas aberturas de xadrez. Uma das mais espirituosas aberturas de um conto é esta:


Madrid is full of boys named Paco, which is the diminutive of the name Francisco, and there is a Madrid joke about a father who came to Madrid and inserted an advertisement in the personal columns of El Liberal which said: PACO MEET ME AT HOTEL MONTANA NOON TUESDAY ALL IS FORGIVEN PAPA and how a squadron of Guardia Civil had be called out to disperse the eight hundred young men who answered the advertisement. But this Paco, who waited on table at the pension Luarca, have no father to forgive him, nor anything of the father to forgive.

[Ernst Hemingway, "The Capital of the World", in Winner Takes Nothing, 1939]


Madri está cheia de garotos chamados Paco, que é o diminutivo de Francisco, e há essa anedota de um pai que veio a Madri e inseriu um anúncio nos classificados de El Liberal em que se lia: PACO ENCONTRE-ME NO HOTEL MONTANA TERÇA À TARDE TUDO ESTÁ PERDOADO PAPA, e de como um esquadrão da Guardia Civil teve de ser chamado para dispersar os oitocentos jovens que responderam ao anúncio. Porém esse Paco, que esperava à mesa na Pensão Luarca, não tinha pai para perdoá-lo, nem nada a ser perdoado pelo pai.

* * *

Nenhum comentário:

Postar um comentário